quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

PARTE I - Principais Zoonoses transmitidas pelo cão e gato

Clínica Veterinária de Mangualde
             Dr. Benigno Rodrigues
             Dra. Sandra Oliveira





PARTE I – As principais zoonoses transmitidas pelo cão e gato


  •  RAIVA
A Raiva foi reconhecida por volta dos anos 2300 A. C. É uma doença muito grave e fatal, causada pelo vírus: Lyssavirus, que afecta todos os animais mamíferos, incluindo os seres humanos. Por cada ano que passa esta doença mata mais de 50 000 pessoas e milhões de animais em todo o mundo. A raiva é endémica na América Central e do Sul, Ásia e África.
A saliva constitui a sua principal forma de transmissão. Os animais domésticos infectam-se em situações de mordeduras, e menos comum, em arranhões e lambidelas, de animais raivosos. O vírus entra no organismo através do contacto da saliva com ferimentos da pele ou mucosas.
A transmissão ao Homem ocorre geralmente através da mordedura de animais infectados como por exemplo cães, gatos, morcegos, etc.
Esta doença que afecta o sistema nervoso central passa por várias fases. Há uma fase excitativa em que o cão tem alterações de humor, torna-se agressivo, auto mutila-se e saliva muito, e depois uma fase paralítica em que o animal desenvolve uma paralisia progressiva, incapaz de comer, beber, acabando por  morrer.
Desde 1960 que Portugal está sem registos de casos de Raiva. Tal feito deve-se à campanha de vacinação anti-rábica do Programa Nacional de Luta e Vigilância Epidemiológica da Raiva Animal e outras Zoonoses que obriga à vacinação de todos os cães com mais de 3 meses de idade e aos gatos que participem em concursos/exposições.
Contudo, a Raiva não deixa de ser uma ameaça constante porque há a possibilidade de existência do vírus devido à migração de mamíferos contaminados, quer domésticos, quer selvagens. Não há controlo dos animais selvagens e as fronteiras com países onde a raiva é ainda um problema como o caso do Brasil, Angola estão abertas. Os portugueses podem ficar expostos quando viajam para países onde a raiva é endémica e quando se introduz em Portugal, de forma ilegal, animais provenientes de regiões afectadas.

A prevenção é muito importante. Como fazer?
Vacine os seus animais de companhia contra a raiva (inclusive os gatos),  cumpra as regras de circulação de cães e gatos entre países da União Europeia e fora dela, e evite mordeduras.
 Esta doença não tem cura e leva à morte. Todos os animais que tenham entrado em contacto com um animal suspeito de raiva têm de ficar em quarentena. Em qualquer suspeita, o médico veterinário deve ser informado.

  •   DERMATOFITOSE/ TINHA
É transmitida facilmente por contacto directo com um animal infectado. A transmissão directa de cães e gatos ocorre em cerca de 30% dos casos de tinha nos humanos.
Aconselha-se a que os proprietários de animais afectados lavem muito bem as mãos após manipulação do cão ou gato e que não permitam que as crianças brinquem com o animal até estar tratado.
No caso de o seu animal apresentar algum problema de pele (por exemplo: peladas redondas) deve consultar o Médico Veterinário para que se faça um diagnóstico correcto e se inicie o tratamento o quanto antes. Esta doença demora muito tempo a controlar-se.


  • SARNA
A sarna sarcóptica ou escabiose canina, causada pelo ácaro Sarcoptes scabiei, é altamente contagiosa para outros cães e para o Homem. Nos gatos o tipo de sarna contagiosa para o Homem é a sarna notoédrica causada pelo Notoedres cati.
A transmissão para outros animais e Homem é feita através do contacto directo com um animal infectado ou com o seu ambiente envolvente.
A sarna sarcóptica provoca intenso prurido, eritema (pele avermelhada), queda de pelo, crostas na pele e escoriações. As áreas mais afectadas são a cabeça, a ponta das orelhas, ao redor dos olhos, abdómen, cotovelos, podendo evoluir para qualquer região do corpo se não for tratada. A sarna notoédrica é muito mais rara que a sarna sarcóptica e atinge preferencialmente a cabeça do animal causando crostas secas e muito prurido.
No Homem a sarna devida a contacto com animais com sarna, apresenta um quadro clínico muito menos grave.

A Queiletielose ou sarna causada pelo ácaro Cheyletiella, conhecida como “caspa ambulante” é também uma zoonose altamente contagiosa. É o tipo de sarna menos severo em cães e gatos. A transmissão ocorre por contacto físico frequente e directo da pessoa com o animal infectado, com o ambiente ou objectos que tiveram contacto com o animal. Os ácaros são vistos na pele do dorso do animal como pequenas escamas ou caspa. Causa prurido, vermilhão na pele, e uma pelagem baça e quebradiça. Actualmente a sua ocorrência é baixa devido às melhores condições de higiene do pêlo e ao uso de produtos antiparasitários contra pulgas e carraças que são eficazes no combate aos ácaros.
 
Se tiver um animal infectado com sarna, para evitar o contágio, deve isolar o animal e tratá-lo com produtos aconselhados pelo Médico Veterinário. Além disso, deve usar luvas para manipular o animal, lavar todos os tecidos que tiverem contacto com ele, como: mantas, tapetes, roupas, e limpar bem o local onde vive.

A Sarna Otodécica e a sarna Demodécica são outros tipos de sarna muito comuns nos cães mas não são contagiosos para os seres humanos.

  • TOXOPLASMOSE   - no gato
A infecção pelo protozoário Toxoplasma gondii ocorre numa série de animais de sangue quente (coelhos, aves, porcos, cães, gatos, etc), incluindo o Homem. Os gatos são o único hospedeiro definitivo, onde ocorre o ciclo sexual do parasita e a única espécie capaz de transmitir a doença ao Homem.
Os gatos infectam-se através da ingestão de animais caçados (geralmente roedores) ou de carne crua. Quando infectados, o parasita multiplica-se nas células do intestino eliminando oocistos que saem nas fezes para o ambiente. Estes oocistos passado um tempo (48 a 72 horas) esporulam e tornam-se infectantes.

 A infecção no Homem ocorre através de:
      - Ingestão de água e/ou alimentos contaminados com oocistos esporulados provenientes das fezes de gatos;
      - Directamente pela ingestão das fezes de gatos infectados;
Como não comemos voluntariamente fezes de gatos, geralmente a infecção ocorre por ingestão de alimentos como legumes e vegetais, ou carne crua mal cozinhada. Não há transmissão directa de uma pessoa para outra.
A infecção nos seres humanos raramente dá sintomas ou complicações, excepto se estiverem com o sistema imunitário comprometido, como as pessoas com cancro ou SIDA. Nestas pessoas a infecção é grave e pode ser fatal.
A infecção do feto humano através da placenta (infecção da grávida e passagem para o feto) representa a maior ameaça nos seres humanos pois pode levar a manifestações graves como o aborto, prematuridade e morte fetal. Os recém-nascidos infectados podem ter defeitos congénitos e desenvolver febre, aumento do fígado e baço, icterícia, convulsões, paralisia, atrasos de desenvolvimento, etc.
Devem ser rastreadas todas as mulheres antes e durante a gravidez, para saberem se são imunes ou não à toxoplasmose.
Se as grávidas não forem imunes devem ter alguns cuidados como por exemplo: manusear carnes cruas e verduras com luvas, lavar muito bem as verduras e frutas cruas, retirar a casca das frutas, evitar ingestão de enchidos ou carnes mal cozinhadas, evitar manusear fezes de gatos e usar luvas durante a jardinagem.
 Pode-se rastrear os gatos quanto à presença de Toxoplasma gondii – pergunte ao Médico Veterinário.
Como medidas preventivas deve: mudar a caixa de areia com frequência e retirar as fezes o mais cedo possível. Não contacte directamente com as fezes – use sempre luvas. Como os oocistos são resistentes aos desinfectantes mais banais use água com lixivia para desinfectar e lavar a caixa de areia no caso de suspeitar de contaminação.

  • LEPTOSPIROSE   - no cão
Conhecida como “a doença dos ratos”, a leptospirose é causada pela bactéria Leptospira spp., que afecta a maior parte dos animais, inclusive o Homem. A bactéria é eliminada na urina de animais infectados (sobretudo ratos) e sobrevive muito tempo em ambientes húmidos (pântanos, água das fossas, charcos, etc…).  
Transmite-se ao Homem: directamente através do contacto com urina de roedores, ou indirectamente com o contacto de alimentos ou águas contaminadas com urina - por ingestão ou penetração na pele lesionada.
O seu cão pode ficar infectado se beber, nadar ou andar sobre água contaminada, comer alimentos contaminados com urina de ratos, comer ratos ou outros animais doentes. Quando doente o seu cão pode transmitir-lhe a infecção se tiver contacto com a urina dele. Já a pessoa, se infectada, não transmite a doença a outras pessoas.
 Os sintomas no cão são muito variáveis, dependendo da idade, da imunidade do animal e do tipo de serovar da bactéria infectante. Origina problemas hepáticos, renais, hemorragias, vómitos, dor abdominal e perda de apetite. A doença é grave e altamente fatal se não vacinar o seu cão. A vacina contra a leptospirose está incluída na vacina que geralmente se administra contra as doenças infecciosas.
  A ocorrência da doença nas pessoas, conhecida como “Doença de Weill”, é rara. Se acontecer leva a sintomas variados como febre alta, dor de cabeça, dores musculares, vómitos, diarreia e dor abdominal. Sem tratamento pode levar a alterações no rim, fígado e à morte.

Que medidas preventivas devo seguir?

- Evitar situações de contacto com urina de roedores e dos próprios animais domésticos;
- Desinfecção e drenagem de águas paradas e limpeza de terrenos baldios;
- Lavagem dos alimentos, em especial os que são comidos crus;
- Desinfecção e limpeza com lixívia de locais susceptíveis de atrair ratos;
- Exterminação dos roedores;
- Usar sempre luvas durante a limpeza dos canis, manipulação do animal e das suas excreções;
- Isolar os animais doentes;
- Desinfectar ou incinerar todos o material que entrou em contacto com ele;
- Evitar deixar a comida do seu cão disponível todo o dia, ela pode atrair ratos que podem urinar em cima e consequentemente infectar o cão.
- Mantenha a vacina do seu cão em dia.


Artigo escrito por Sandra Oliveira – médica veterinária (CP 4910)

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