Clínica Veterinária de Mangualde
Dr.
Benigno Rodrigues
Dra. Sandra
Oliveira
PARTE II - Parasitoses
intestinais do cão e gato que são zoonoses
v GIARDIA
O protozoário Giardia lamblia é responsável por
uma das zoonoses mais comuns de ocorrer nos seres humanos transmitidas pelos
animais de estimação, em particular cães e gatos jovens, entre 1 e 8 meses de
idade.
A infecção por Giardia
ocorre através da ingestão de quistos eliminados nas fezes dos animais,
presentes no meio ambiente, na água e nos alimentos ou nos pêlos dos animais.
Os animais de rua e aqueles que estão em canis,
gatis estão mais expostos à infecção. Muitos animais podem estar contaminados,
não apresentando qualquer sinal de doença, mas podem potencialmente infectar
outros animais e pessoas.
Provoca nos animais e nas pessoas uma infecção intestinal
levando a desidratação, diarreia, dor abdominal e perda de peso.
A cura no animal é difícil de obter, porque mesmo
que seja bem tratado é muito frequente ocorrer reinfestações devido à
dificuldade da eliminação dos quistos infectantes do ambiente (devido à sua
elevada resistência). Além disso há uma grande quantidade de portadores
assintomáticos, que eliminam quistos nas fezes, mesmo após o tratamento.
Como tal, o controlo é fundamental e baseia-se em 3
pontos importantes: desinfecção do meio ambiente, tratamento dos animais e
prevenção da reinfecção.
Para isso deve-se desparasitar os animais,
limpar/desinfectar o ambiente com água quente e lixívia, evitar que fique
húmido, não deixar fezes expostas e assegurar que os alimentos e a água não se
contaminem com as fezes.
Para o controlo desta zoonose no Homem as
recomendações são:
-Lavar
as mãos depois de tocar num animal infectado.
-Evitar
que as pessoas imunodeprimidas tenham contacto com fezes de animais
parasitados.
-Usar
sempre água tratada e controlada.
-Manter
bons hábitos de higiene.
v ASCARÍDEOS
Os ascarídeos estão entre os mais comuns parasitas
que infectam o tracto intestinal dos animais domésticos. Geralmente chamados de
“lombrigas”, os nemátodes Toxocara spp
na sua forma adulta, são vermes
grandes esbranquiçados com até 18cm de comprimentos que parasitam o intestino
delgado.
Estes parasitas são muito comuns em gatinhos e
cachorros. São visíveis se forem expulsos pelo vómito ou fezes, mas é bem
possível que animais infectados não apresentem sintomas externos.
As “lombrigas” habitam o tracto intestinal e
expulsam ovos que saem para o meio ambiente juntamente com as fezes dos
animais. Uma única fêmea de ascarídeo pode produzir até 200 mil ovos por dia.
Os animais de estimação podem ser infectados por
várias formas:
-Ingestão de solo (areia ou terra), vegetação ou alimentos contaminados com
ovos;
-Ingestão de hospedeiros intermediários (roedores, coelhos ou pássaros)
contaminados;
-Através do leite durante a amamentação;
-As larvas também podem passar da mãe contaminada para os filhotes através da
placenta durante a gestação (apenas nos cachorros).
Os cães infestados com ascarídeos podem apresentar
dificuldade em ganhar peso, diminuição de apetite, diarreia, vómito, pelagem
fraca e aparência de barriga dilatada.
Entre as zoonoses parasitárias adquiridas pela
relação próxima com os animais de companhia, uma das mais importantes é a
chamada síndrome da Larva Migrans
Visceral. Este termo refere-se às infecções que podem afectar o Homem pela
ingestão acidental de larvas dos nemátodes com maior prevalência no cão e no
gato: Toxocara canis e Toxocara cati, respectivamente. No Homem não são os vermes adultos que causam
problemas mas as suas larvas. Quando ingeridas elas migram para os restantes
órgãos do organismo e permanecem lá, causando danos, em especial no fígado e
olhos.
v ANCILOSTOMÍDEOS
Os Ancilostomídeos adultos são nemátodos pequenos,
com cerca de 1 a 1,5cm de comprimento que parasitam o intestino delgado dos
cães e gatos. No cão o nemátodo mais importante é o Ancylostoma caninum. Este
parasita é responsável por uma elevada mortalidade e morbilidade nos cães, principalmente
pela sua actividade hematófaga no intestino que causa uma grande perda de
sangue.
Os cães infestados com ancilóstomos, em particular
os mais jovens e debilitados, podem desenvolver anemia, anorexia, perda de
peso, fraqueza e diarreia.
A transmissão ocorre através da ingestão de larvas
(ao farejar, lamber o chão, comer algum alimento contaminado ou ingerir
roedores ou baratas infestadas com larvas), penetração das larvas na pele do
animal ou da amamentação.
As fontes de infecção são normalmente as
superfícies de solo húmido e areia que foram contaminadas com as larvas
contidas nas fezes dos animais.
Os cães podem transmitir ancilóstomos aos seres
humanos, causando a Síndrome da Larva
Migrans Cutânea. Este problema é mais frequente em praias e em terrenos
arenosos, onde os cães e gatos contaminam o ambiente com as fezes. O parasita (forma
larvar) penetra na pele, provavelmente na zona dos pés e provoca infecções
cutâneas. As pessoas ao andarem descalças pela areia podem ficar infectadas. As
crianças podem infectar-se por contacto directo ou por ingestão ao brincarem
nos depósitos de areia para construção, ou nos tanques de areia dos parques
infantis.
v TÉNIAS
As infecções por céstodes (conhecido como ténias)
no cão e gato têm uma grande importância para a saúde pública. As espécies de
maior interesse e que são zoonoses são a Taenia
multiceps, a Taenia serialis no
cão e a Taenia taeniformes no
gato.
A doença causada por estes vermes nos hospedeiros
definitivos (cão e gato) é chamada de Teníase
e nos hospedeiros intermediários: Homem, ruminantes, roedores e leporídeos de Cisticercose.
Os cães e gatos são infectados pela ingestão de
ovos presentes na água, fruta, vegetais ou adquiridos directamente a partir do
solo. A infecção pode ainda ocorrer por ingestão de carne ou vísceras dos
hospedeiros intermediários parasitados – ruminantes e roedores – com a forma
larvar: cisticercos. No intestino os cisticercos desenvolvem-se em adultos,
crescem, reproduzem-se e produzem ovos que são depois libertados nas fezes. As
ténias adultas podem viver anos dentro do intestino.
A presença destes céstodes no intestino delgado do
cão e gato provoca diarreia, perda de peso, dor abdominal e prurido anal. Em
casos de infecções maciças pode ocorrer: obstrução do trânsito intestinal.
O hospedeiro intermediário, incluindo o Homem, é
infectado quando ingere os ovos eliminados com as fezes de cães e gatos que
contaminam os pastos, terra e a água.
A melhor prevenção para evitar que cães e gatos
sejam infectados é desparasitá-los regularmente e não dar carne crua. A carne e as vísceras dadas
aos animais devem ser completamente cozinhadas.
v TÉNIA Echinococus spp. (EQUINOCOCOSE/HIDATIDOSE)
O
Echinococcus spp é um cestode muito
pequeno, com 3 a 6 mm de comprimento, da mesma família das ténias. A sua forma
adulta parasita o intestino do cão ou gato causando a Equinococose, enquanto a forma larvar – o quisto hidático – acomete
os herbívoros e acidentalmente o Homem, causando a Hidatidose.
Este
género (Echinococcus spp) inclui 2
espécies de grande importância:
-
Echinococcus
granulosus: Responsável pela Hidatidose
Quística no Homem e nos animais de produção (hospedeiros intermediários). O
hospedeiro definitivo é o cão ou outros carnívoros selvagens.
- Echinococcus multiocularis: Produz a
Hidatidose Humana Alveolar. Afecta o
cão, o gato e outros carnívoros (hospedeiros definitivos).
Os
adultos de Echinococcus parasitam o intestino delgado do hospedeiro definitivo,
reproduzem-se e dão origem a ovos que saem com as fezes. Os ovos não são
visíveis a olho nu e conseguem permanecer no meio ambiente durante longos
períodos de tempo graças à sua grande resistência às mudanças ambientais.
O
cão ao lamber-se pode espalhar na pelagem ovos que depois podem ser ingeridos por
uma criança que faz festas ao cão e que não tem uma adequada higiene das mãos. A
proximidade Homem-cão é propícia ao ciclo zoonótico desta doença.
Os
ovos presentes nas fezes, pêlo do cão, água
ou alimentos podem ser ingeridos acidentalmente pelo Homem e por outros
mamíferos e dar origem ao chamado quisto hidático.
Os cães e gatos adquirem a infecção
(equinococose) quando ingerem os hospedeiros intermediários infectados com
quistos (por ex. quando comem restos e vísceras de porco, vaca, cabra, ovelha).
A Hidatidose
é uma zoonose de distribuição mundial que provoca grandes prejuízos
económicos, além de representar um importante problema de saúde pública. Embora
no cão esta ténia não cause graves alterações, no Homem pode enquistar-se em
vários órgãos (cérebro, pulmão, fígado) atingindo dimensões consideráveis e pôr-lhe
a vida em risco. Esta zoonose acarreta gravíssimos perigos, como a compressão
exercida nos órgãos vitais quando atinge grandes dimensões e o perigo dum
choque anafiláctico mortal aquando da disseminação dos quistos-filhos pelo
organismo.
A
sua prevenção não é difícil, passa pela simples desparasitação do seu animal regularmente
com produtos recomendados pelo Médico Veterinário e ter alguns cuidados: não
dar-lhe a comer vísceras e carnes cruas, não deixar-se lamber em particular no
rosto, alimentá-lo em recipientes próprios e lavados separadamente, manter os
cães e os locais onde permanecem limpos, não beber água não tratada e de origem
desconhecida, lavar muito bem frutas e vegetais que se comem crus, e seguir
boas práticas de higiene como lavar sempre as mãos antes de comer e depois de
contactar com os animais.
v TÉNIA Dipylidium caninum (DIPILIDIOSE)
O Dipylidium
caninum é um céstode muito comum em cães e gatos e que têm um forte
potencial zoonótico.
As pulgas intervêm como o hospedeiro intermediário
da ténia. Esta infecta cães e gatos quando estes ao lamberem-se ou ao
mordiscarem o pêlo ingerem pulgas infectadas com larvas de ténia. As larvas vão
para o intestino e lá evoluem para a forma adulta.
Tal como os outros céstodes, os adultos parasitam o
intestino delgado dos hospedeiros. Estas ténias raramente provocam sinais
evidentes nos animais, mas quando os animais têm infecções massivas podem vir a
ter diarreia, anemia, vómitos, perda de peso e prurido anal.
As pessoas e em particular as crianças, podem
infestarem-se ao brincam com os seus animais de estimação e ingerir
acidentalmente fezes ou pêlos do seu animal.
Muito
frequentemente, os proprietários de cães ou gatos parasitados com ténias
verificam a saída de pequenos segmentos destas pelo ânus dos animais, ou então
vêem os mesmos segmentos secos, agarrados ao pêlo doa animais ou caídos na
cama, assemelhando-se a pequenas sementes brancas.
A infecção é
comum nos locais onde existem muitas pulgas, nomeadamente nas zonas urbanas e
rurais.
Assim, faz todo o sentido que um animal no qual se
detecte a presença de pulgas, seja também desparasitado internamente.
Concluindo:
A
prevenção através da desparasitação regular de 3 em 3 meses é a melhor arma
contra a infestação dos animais domésticos por parasitas intestinais e uma arma
eficaz contra a transmissão de doenças ao ser humano.
Convém
fazer pelo menos uma desparasitação anual das crianças e família.
Além
destas formas de prevenção devem-se aplicar as medidas básicas de higiene como
a lavagem das mãos,
a cozedura adequada da carne e a lavagem cuidadosa das verduras, legumes e
frutas crus.
As
crianças são um alvo fácil de infecção, porque de forma despreocupada contactam
com cães e gatos doentes ou não, e facilmente levam as mãos á boca.
Artigo escrito por Sandra Oliveira – Médica Veterinária (CP
4910)
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