quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

PARTE II - Zoonoses causadas por parasitas intestinais do cão e gato

Clínica Veterinária de Mangualde
             Dr. Benigno Rodrigues
             Dra. Sandra Oliveira





PARTE II - Parasitoses intestinais do cão e gato que são zoonoses


v   GIARDIA

O protozoário Giardia lamblia é responsável por uma das zoonoses mais comuns de ocorrer nos seres humanos transmitidas pelos animais de estimação, em particular cães e gatos jovens, entre 1 e 8 meses de idade.
A infecção por Giardia ocorre através da ingestão de quistos eliminados nas fezes dos animais, presentes no meio ambiente, na água e nos alimentos ou nos pêlos dos animais.

Os animais de rua e aqueles que estão em canis, gatis estão mais expostos à infecção. Muitos animais podem estar contaminados, não apresentando qualquer sinal de doença, mas podem potencialmente infectar outros animais e pessoas.
Provoca nos animais e nas pessoas uma infecção intestinal levando a desidratação, diarreia, dor abdominal e perda de peso.

A cura no animal é difícil de obter, porque mesmo que seja bem tratado é muito frequente ocorrer reinfestações devido à dificuldade da eliminação dos quistos infectantes do ambiente (devido à sua elevada resistência). Além disso há uma grande quantidade de portadores assintomáticos, que eliminam quistos nas fezes, mesmo após o tratamento.
Como tal, o controlo é fundamental e baseia-se em 3 pontos importantes: desinfecção do meio ambiente, tratamento dos animais e prevenção da reinfecção. 
Para isso deve-se desparasitar os animais, limpar/desinfectar o ambiente com água quente e lixívia, evitar que fique húmido, não deixar fezes expostas e assegurar que os alimentos e a água não se contaminem com as fezes.
Para o controlo desta zoonose no Homem as recomendações são:
-Lavar as mãos depois de tocar num animal infectado.
-Evitar que as pessoas imunodeprimidas tenham contacto com fezes de animais parasitados.
-Usar sempre água tratada e controlada.
-Manter bons hábitos de higiene.

  ASCARÍDEOS

Os ascarídeos estão entre os mais comuns parasitas que infectam o tracto intestinal dos animais domésticos. Geralmente chamados de “lombrigas”, os nemátodes Toxocara spp na sua forma adulta, são vermes grandes esbranquiçados com até 18cm de comprimentos que parasitam o intestino delgado.

Estes parasitas são muito comuns em gatinhos e cachorros. São visíveis se forem expulsos pelo vómito ou fezes, mas é bem possível que animais infectados não apresentem sintomas externos.
As “lombrigas” habitam o tracto intestinal e expulsam ovos que saem para o meio ambiente juntamente com as fezes dos animais. Uma única fêmea de ascarídeo pode produzir até 200 mil ovos por dia.
Os animais de estimação podem ser infectados por várias formas:
-Ingestão de solo (areia ou terra), vegetação ou alimentos contaminados com ovos;
-Ingestão de hospedeiros intermediários (roedores, coelhos ou pássaros) contaminados;
-Através do leite durante a amamentação;
-As larvas também podem passar da mãe contaminada para os filhotes através da placenta durante a gestação (apenas nos cachorros).
Os cães infestados com ascarídeos podem apresentar dificuldade em ganhar peso, diminuição de apetite, diarreia, vómito, pelagem fraca e aparência de barriga dilatada.


Entre as zoonoses parasitárias adquiridas pela relação próxima com os animais de companhia, uma das mais importantes é a chamada síndrome da Larva Migrans Visceral. Este termo refere-se às infecções que podem afectar o Homem pela ingestão acidental de larvas dos nemátodes com maior prevalência no cão e no gato: Toxocara canis e Toxocara cati, respectivamente. No Homem não são os vermes adultos que causam problemas mas as suas larvas. Quando ingeridas elas migram para os restantes órgãos do organismo e permanecem lá, causando danos, em especial no fígado e olhos.
           
v   ANCILOSTOMÍDEOS

Os Ancilostomídeos adultos são nemátodos pequenos, com cerca de 1 a 1,5cm de comprimento que parasitam o intestino delgado dos cães e gatos. No cão o nemátodo mais importante é o Ancylostoma caninum. Este parasita é responsável por uma elevada mortalidade e morbilidade nos cães, principalmente pela sua actividade hematófaga no intestino que causa uma grande perda de sangue.
Os cães infestados com ancilóstomos, em particular os mais jovens e debilitados, podem desenvolver anemia, anorexia, perda de peso, fraqueza e diarreia.
A transmissão ocorre através da ingestão de larvas (ao farejar, lamber o chão, comer algum alimento contaminado ou ingerir roedores ou baratas infestadas com larvas), penetração das larvas na pele do animal ou da amamentação.
As fontes de infecção são normalmente as superfícies de solo húmido e areia que foram contaminadas com as larvas contidas nas fezes dos animais.

Os cães podem transmitir ancilóstomos aos seres humanos, causando a Síndrome da Larva Migrans Cutânea. Este problema é mais frequente em praias e em terrenos arenosos, onde os cães e gatos contaminam o ambiente com as fezes. O parasita (forma larvar) penetra na pele, provavelmente na zona dos pés e provoca infecções cutâneas. As pessoas ao andarem descalças pela areia podem ficar infectadas. As crianças podem infectar-se por contacto directo ou por ingestão ao brincarem nos depósitos de areia para construção, ou nos tanques de areia dos parques infantis.


v   TÉNIAS

As infecções por céstodes (conhecido como ténias) no cão e gato têm uma grande importância para a saúde pública. As espécies de maior interesse e que são zoonoses são a Taenia multiceps, a Taenia serialis no cão e a Taenia taeniformes no gato. 

A doença causada por estes vermes nos hospedeiros definitivos (cão e gato) é chamada de Teníase e nos hospedeiros intermediários: Homem, ruminantes, roedores e leporídeos de Cisticercose.
Os cães e gatos são infectados pela ingestão de ovos presentes na água, fruta, vegetais ou adquiridos directamente a partir do solo. A infecção pode ainda ocorrer por ingestão de carne ou vísceras dos hospedeiros intermediários parasitados – ruminantes e roedores – com a forma larvar: cisticercos. No intestino os cisticercos desenvolvem-se em adultos, crescem, reproduzem-se e produzem ovos que são depois libertados nas fezes. As ténias adultas podem viver anos dentro do intestino.
A presença destes céstodes no intestino delgado do cão e gato provoca diarreia, perda de peso, dor abdominal e prurido anal. Em casos de infecções maciças pode ocorrer: obstrução do trânsito intestinal.
O hospedeiro intermediário, incluindo o Homem, é infectado quando ingere os ovos eliminados com as fezes de cães e gatos que contaminam os pastos, terra e a água.
A melhor prevenção para evitar que cães e gatos sejam infectados é desparasitá-los regularmente e não  dar carne crua. A carne e as vísceras dadas aos animais devem ser completamente cozinhadas.

v   TÉNIA Echinococus spp. (EQUINOCOCOSE/HIDATIDOSE)

O Echinococcus spp é um cestode muito pequeno, com 3 a 6 mm de comprimento, da mesma família das ténias. A sua forma adulta parasita o intestino do cão ou gato causando a Equinococose, enquanto a forma larvar – o quisto hidático – acomete os herbívoros e acidentalmente o Homem, causando a Hidatidose.
Este género (Echinococcus spp) inclui 2 espécies de grande importância:
         - Echinococcus granulosus: Responsável pela Hidatidose Quística no Homem e nos animais de produção (hospedeiros intermediários). O hospedeiro definitivo é o cão ou outros carnívoros selvagens.
        - Echinococcus multiocularis: Produz a Hidatidose Humana Alveolar. Afecta o cão, o gato e outros carnívoros (hospedeiros definitivos).
Os adultos de Echinococcus parasitam o intestino delgado do hospedeiro definitivo, reproduzem-se e dão origem a ovos que saem com as fezes. Os ovos não são visíveis a olho nu e conseguem permanecer no meio ambiente durante longos períodos de tempo graças à sua grande resistência às mudanças ambientais.

O cão ao lamber-se pode espalhar na pelagem ovos que depois podem ser ingeridos por uma criança que faz festas ao cão e que não tem uma adequada higiene das mãos. A proximidade Homem-cão é propícia ao ciclo zoonótico desta doença.
Os ovos presentes nas fezes, pêlo do cão,  água ou alimentos podem ser ingeridos acidentalmente pelo Homem e por outros mamíferos e dar origem ao chamado quisto hidático.
 Os cães e gatos adquirem a infecção (equinococose) quando ingerem os hospedeiros intermediários infectados com quistos (por ex. quando comem restos e vísceras de porco, vaca, cabra, ovelha).
 A Hidatidose é uma zoonose de distribuição mundial que provoca grandes prejuízos económicos, além de representar um importante problema de saúde pública. Embora no cão esta ténia não cause graves alterações, no Homem pode enquistar-se em vários órgãos (cérebro, pulmão, fígado) atingindo dimensões consideráveis e pôr-lhe a vida em risco. Esta zoonose acarreta gravíssimos perigos, como a compressão exercida nos órgãos vitais quando atinge grandes dimensões e o perigo dum choque anafiláctico mortal aquando da disseminação dos quistos-filhos pelo organismo.
A sua prevenção não é difícil, passa pela simples desparasitação do seu animal regularmente com produtos recomendados pelo Médico Veterinário e ter alguns cuidados: não dar-lhe a comer vísceras e carnes cruas, não deixar-se lamber em particular no rosto, alimentá-lo em recipientes próprios e lavados separadamente, manter os cães e os locais onde permanecem limpos, não beber água não tratada e de origem desconhecida, lavar muito bem frutas e vegetais que se comem crus, e seguir boas práticas de higiene como lavar sempre as mãos antes de comer e depois de contactar com os animais.

  TÉNIA Dipylidium caninum (DIPILIDIOSE)

O Dipylidium caninum é um céstode muito comum em cães e gatos e que têm um forte potencial zoonótico.
As pulgas intervêm como o hospedeiro intermediário da ténia. Esta infecta cães e gatos quando estes ao lamberem-se ou ao mordiscarem o pêlo ingerem pulgas infectadas com larvas de ténia. As larvas vão para o intestino e lá evoluem para a forma adulta.

Tal como os outros céstodes, os adultos parasitam o intestino delgado dos hospedeiros. Estas ténias raramente provocam sinais evidentes nos animais, mas quando os animais têm infecções massivas podem vir a ter diarreia, anemia, vómitos, perda de peso e prurido anal.
As pessoas e em particular as crianças, podem infestarem-se ao brincam com os seus animais de estimação e ingerir acidentalmente fezes ou pêlos do seu animal.
 Muito frequentemente, os proprietários de cães ou gatos parasitados com ténias verificam a saída de pequenos segmentos destas pelo ânus dos animais, ou então vêem os mesmos segmentos secos, agarrados ao pêlo doa animais ou caídos na cama, assemelhando-se a pequenas sementes brancas.
 A infecção é comum nos locais onde existem muitas pulgas, nomeadamente nas zonas urbanas e rurais.
Assim, faz todo o sentido que um animal no qual se detecte a presença de pulgas, seja também desparasitado internamente.

Concluindo:

A prevenção através da desparasitação regular de 3 em 3 meses é a melhor arma contra a infestação dos animais domésticos por parasitas intestinais e uma arma eficaz contra a transmissão de doenças ao ser humano.
Convém fazer pelo menos uma desparasitação anual das crianças e família.

Além destas formas de prevenção devem-se aplicar as medidas básicas de higiene como a lavagem das mãos, a cozedura adequada da carne e a lavagem cuidadosa das verduras, legumes e frutas crus.
As crianças são um alvo fácil de infecção, porque de forma despreocupada contactam com cães e gatos doentes ou não, e facilmente levam as mãos á boca.

Artigo escrito por Sandra Oliveira – Médica Veterinária (CP 4910)

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