segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

O meu animal de estimação pode transmitir-me doenças?

Clínica Veterinária de Mangualde
         Dra. Sandra Oliveira
         Dr. Benigno Rodrigues





O meu animal de estimação pode transmitir-me doenças?

São inúmeros os benefícios que um animal de estimação pode transmitir ao seu dono. Um deles é contribuir para o seu bem-estar oferecendo momentos de satisfação, alegria e relaxamento. Também ajudam a combater o stress e o isolamento, ao mesmo tempo que são úteis em trabalhos específicos como o caso dos cães de caça ou os de guarda a rebanhos. Para muitas pessoas os animais de estimação são mais que simples animais, são membros da família. E como parte da família moram dentro da nossa casa, alguns compartilham o nosso sofá, alimentos e até a nossa cama.
No entanto, os animais de estimação podem ser portadores de importantes agentes patogénicos, capazes de transmitir doenças a outros animais e a nós seres humanos. O pelo, a saliva, as fezes e a urina dos cães e gatos podem conter microrganismos capazes de causar doença a nós próprios.

As zoonoses são doenças, em geral infecciosas, transmissíveis dos animais para o Homem. Estas doenças são geralmente transmitidas por animais que têm uma relação de proximidade com o ser humano como o caso dos animais de estimação (cão, gato, papagaio), animais de produção que são fonte de alimento (vaca, porco, ovelha), e dos vectores como ratos, mosquitos, pulgas.
Os agentes que desencadeiam estas doenças são diversos como bactérias, fungos, vírus, helmintes, etc.
Não se alarme. Não é por ter um cão ou gato em casa que vai logo apanhar doenças. Não é preciso expulsar o seu animal querido de casa. Se tiver o seu animal bem cuidado, nutrido, vacinado, desparasitado (internamente e externamente) e vivendo em boas condições higiénicas dificilmente ele poderá transmitir-lhe doenças. A alimentação do seu animal tem aqui um papel importante, recomendando-se uma dieta à base de ração de qualidade evitando alimentos crus e os restos da nossa comida.

As doenças transmitidas através das fontes de alimento são, na maioria, controladas pelas entidades responsáveis pela Inspecção Sanitária e Controlo Alimentar nas explorações pecuárias, matadouros, supermercados, lotas, etc. Assim, actualmente, o maior risco potencial de contrair infecções que advém da carne/peixe (brucelose, tuberculose, “doença das vacas loucas”, salmonelose, entre outras) está na ingestão de alimentos directamente da fonte, os chamados “produtos caseiros”.

Sabia que: A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que cerca de 62% das doenças do Homem sejam transmitidas por animais. São doenças como a Leishmaniose, em que há 50 novos casos por ano nas pessoas, e a Febre da Carraça responsável por aproximadamente 10 casos em cada 100 mil habitantes.

  Algumas das principais zoonoses transmitidas pelo cão e gato são:

*        Leishmaniose (Leishmania infantum)
*        Dermatofitose (Microsporum spp)
*        Raiva (Lyssavirus)
*        Leptospirose
*        Toxoplasmose (Toxoplasma gondii)
*        Sarna (Sarcoptes scabiei em cães e Notoedres cati nos gatos)
*        Brucelose (B. canis)
*        Parasitas intestinais como a Giardia lamblia e o Ancylostoma caninum
*        Equinococose

Segundo a legislação portuguesa - Portaria nº 1071/98: a Leishmaniose visceral, a Raiva, a Leptospirose e a Equinococose fazem parte do grupo das Doenças de Declaração Obrigatória (DDO).

  Que posso fazer para proteger o meu animal e a mim próprio?

Ainda que os benefícios de ter um animal de companhia ultrapassem largamente os riscos associados a zoonoses, algumas precauções devem ser tomadas:

- Lave sempre as mãos com água e sabão depois de brincar ou cuidar dos animais. Isto é particularmente importante antes de comer ou tocar em alimentos.
- Não dê carne/peixe crus ou mal cozinhados aos animais.
- Não permita que os animais bebam água não potável, mecham no lixo ou apanhem/comam as fezes ou fezes de outros animais.
- Evite o acesso de cães e gatos a zonas de recreio onde as crianças brincam: parques infantis, terrenos de areia, etc.
- Recolha rapidamente as fezes e a urina do animal desinfestando o local em seguida. As fezes podem ser contagiosas para as pessoas que convivem com o animal e para o meio-ambiente, pelo que deve se certificar que a sua destruição é eficaz. Não se esqueça de apanhar também os dejectos que ele faz na rua.
- Faça uma limpeza a fundo e desinfecção do ambiente envolvente do animal: da cama, do espaço onde come e das zonas onde defeca e urina.
- Lave e desinfecte os comedouros e bebedouros e as zonas onde o animal passa mais tempo (jaula, canil, cama). Não misture as taças e outros materiais usados pelo animal com os usados por pessoas.
- Nos canis/gatis evite solos arenosos e utilize solos de cimento que permitem uma limpeza em profundidade, que deve ser periódica, à base de água com pressão e desinfectantes como a lixivia.
- Mantenha uma higiene continua do seu animal, particularmente da pele, pelo, olhos, narinas, ouvidos e boca.
- Evite lambidelas próximo dos lábios, olhos e nariz.
- Use luvas no contacto com sangue, saliva, muco, pus, urina e fezes do seu animal.
- A vigilância veterinária do seu animal diminui consideravelmente o risco zoonótico.
 Leve o seu animal periodicamente ao Médico Veterinário, mesmo que não aparente apresentar sintomas.
- Desparasite regularmente o seu cão e gato com produtos que combatem parasitas intestinais, pulgas, carraças, piolhos e mosquitos.

Todos os animais devem ser desparasitados antes de ser vacinados.

- Vacine o seu animal.
A vacinação é muito importante para evitar contrair doenças, que na maioria das vezes, são fatais. As vacinas estimulam o sistema imunitário do organismo permitindo-lhe resistir à acção do agente infeccioso. Antes de ser vacinado o animal deve fazer sempre um exame médico. Assim aconselha-se a primeira vacina a partir das 6-8 semanas de idade depois de estar desparasitado.
Relativamente à saúde dos animais de estimação deve ter sempre em mente que
mais vale prevenir que remediar,
 portanto é importante vacinar 
para prevenir o aparecimento de doenças cujo tratamento sai sempre muito mais dispendioso que o preço das vacinas.

Pergunte ao seu Médico Veterinário qual o melhor programa de desparasitação e vacinação para o seu animal.

- Se notar alguma diferença no comportamento ou sintoma de doença no seu animal, leve-o ao Médico Veterinário.

Alguns grupos etários são mais susceptíveis às zoonoses:
crianças, grávidas, idosos e pessoas com o sistema imunitário frágil, como as que têm SIDA e as sujeitas a quimioterapia.
Estes grupos de risco devem ter particular cuidado no contacto com os animais e ambientes potencialmente contaminados com fezes e urina dos animais como a relva, a terra de um canteiro ou a areia da praia.

Nos próximos 3 artigos do blog vai encontrar informação sobre as principais zoonoses, em particular os seus modos de transmissão e formas de prevenção. As informações contidas nestes artigos são meramente informativas e não dispensam o parecer do Médico Veterinário.
Estes artigos visam esclarecer a razão de algumas das prevenções efectuadas pelo Médico Veterinário e exemplificar porque razão prevenir não é só bom para o seu cão ou gato mas também para si. Para que possa viver em plena harmonia com o seu animal de estimação sem histerismos, medos ou receios.

Muitas destas doenças podem ser evitadas se desparasitar, vacinar e vigiar o seu animal.


Artigo escrito por Sandra Oliveira – médica veterinária (CP 4910)

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