segunda-feira, 25 de março de 2013

INTOXICAÇÃO NO CÃO PELA LAGARTA DO PINHEIRO


INTOXICAÇÃO POR CONTACTO COM A LAGARTA DO PINHEIRO NO CÃO


Os cães, e em especial os mais jovens, são muito curiosos, estão constantemente a farejar e a cheirar tudo o que vêem. Podem até cheirar e/ou lamber espécies animais possuidoras de propriedades tóxicas como insectos, cobras, sapos, processionárias, sendo frequentemente vítimas da sua curiosidade.
A processionária do pinheiro, vulgarmente conhecida como lagarta do pinheiro, é denominada pelo nome científico de Thaumetopoea pityocampa. É uma espécie mediterrânea que se encontra por toda a Península Ibérica, estendendo-se à Turquia e ao Norte de África. Esta lagarta apesar de parecer inofensiva é conhecida por ser uma praga devastadora para o pinheiro e para toda a floresta e, causar graves problemas para a saúde pública. Pode ser muito perigosa para quem entra em contacto directo com ela, como os animais domésticos, os animais selvagens e o Homem, particularmente as crianças.

Algumas curiosidades sobre a lagarta do pinheiro



O ciclo de vida da processionária do pinheiro tem duas fases distintas: a fase aérea e a fase terrestre. A fase aérea inicia-se em Junho prolongando-se até Agosto com a emergência dos adultos e posterior acasalamento. Depois de acasalarem, em meados de Setembro nascem as lagartas. As lagartas vão sofrendo várias mudas até tecerem ninhos onde se agrupam muitos indivíduos formando “novelos de algodão” que são vistos no cimo dos pinheiros durante todo o Inverno.


            A passagem da fase aérea à fase terrestre decorre entre Fevereiro e Maio com a migração colectiva das lagartas, que abandonam as árvores em procissão, formando uma fila. Depois enterram-se no solo a alguns centímetros de profundidade para puparem.
A intoxicação por contacto com esta espécie assume um carácter sazonal, dependendo do clima da região, verificando-se uma maior percentagem de casos durante a Primavera e Verão.


As lagartas apresentam um aparelho defensivo, perante a actuação de predadores naturais, composto por 8 receptáculos, cada um com 120 000 pêlos urticantes de coloração alaranjada. Quando a lagarta se move os receptáculos abrem, libertando milhares de pêlos que se dispersam no ambiente. Os pêlos funcionam como finas agulhas, através do qual é injectada na pele e mucosas uma haloproteína tóxica, designada de taumatopoína, que é capaz de desencadear a libertação massiva de histamina. Por este motivo, cães, gatos, cavalos, homens e outras espécies, quando contactam com os pêlos da processionária desenvolvem um quadro alérgico extremamente exuberante. Não sendo por isto fundamental um contacto directo entre a larva e o animal para este último ser afectado.

Sintomas

                A principal via de contacto dos animais domésticos com a processionária é cutânea, podendo ser também digestiva e ocular.
No cão, os lábios, a mucosa oral e a língua são as partes do corpo mais afectadas.
Os sinais clínicos e as lesões desta doença são variáveis e têm um carácter evolutivo.

·         Edema da face (Focinho inchado)
·         Ptialismo (salivação excessiva)
·         Disfagia (dificuldade em deglutir)
·         Intenso prurido (comichão) na face
·         Urticária
·         Vómito
·         Apatia
·         Falta de apetite
·         Dificuldade na preensão dos alimentos

 A língua é o órgão mais afectado, aumenta de volume, torna-se azulada e com a evolução surgem áreas de necrose (cor amarela a preta). Podem desenvolver infecções nos lábios, língua e por toda a garganta, além de que, no local do contacto, pode ocorrer perda dos tecidos num período de 6 a 10 dias.
Em caso de contacto com os olhos o animal pode apresentar o “olho azul” (edema da córnea), fobia à luz, prurido ocular, conjuntivite e úlcera da córnea.


O proprietário pode apresentar um intenso prurido nas mãos e braços como consequência da manipulação dos animais.
Os sinais clínicos sistémicos são mais raros, porém possíveis existindo relatos de choques anafilácticos, tremores musculares, coma e mesmo morte do animal.


Tratamento:

Caso suspeite de uma situação destas ou o animal apresente alguns dos sintomas descritos leve-o imediatamente à clínica veterinária. É importante que seja tratado o mais cedo possível porque a evolução da doença depende da precocidade com que o tratamento é instaurado.
O tratamento é sintomático, passando pela lavagem da zona afectada e administração de medicação para combate á dor, inflamação, e infecções secundárias. Em casos muito graves, o animal poderá ter de ser hospitalizado.
Não existe nenhum antidoto específico para a toxina da processionária.
A duração do tratamento depende do estado geral do animal, mas normalmente os animais recuperam aproximadamente em 10 dias.
O prognóstico é reservado, apesar da maioria dos casos apresentar uma evolução favorável. Contudo, depende do grau da afecção e da precocidade com que o tratamento inicial é instaurado.

Prevenção:

Durante o período de migração em procissão das larvas, deve impedir-se que os cães tenham acesso livre aos pinhais onde existem ninhos de processionárias.
Os ninhos podem destruir-se com injecções de petróleo, insecticidas ou por queimadas.

É importante referir que além do contacto directo com as lagartas, também o manuseamento dos ninhos pode ser perigoso, uma vez que estes encontram-se recheados de excrementos e de pêlos que ao ser transportados pelo vento, contaminam o ambiente e em contacto com a pele ou com as mucosas originam reacções alérgicas.


Escrito por: Sandra Oliveira
  (médica veterinária - Clínica Veterinária de Mangualde)