quarta-feira, 24 de julho de 2013

A EDUCAÇÃO DO CACHORRO

Clínica Veterinária de Mangualde
             Dr. Benigno Rodrigues
              Dra. Sandra Oliveira







A EDUCAÇÃO DO CACHORRO

- A educação e a obediência do cachorro são importantes para o estabelecimento de uma relação saudável entre animal e proprietário. Constitui não só a garantia duma coabitação harmoniosa entre o cão, o dono e o meio ambiente envolvente como também, da sua integração na sociedade.
- A educação e a aprendizagem da chamada “etiqueta canina” deve começar logo a partir do momento em que o animal entra na nova casa. Tudo é novo e estimula a sua curiosidade. O cachorro cheira tudo e inspecciona cada divisão da sua nova casa, corre, brinca e ladra. Já está a aprender. Por isso é indispensável começar já a dar-lhe a conhecer as regras da casa e o seu lugar nela e não tolerar comportamentos indesejáveis que poderão ser mais tarde mais difíceis de corrigir.
- São muitas as coisas que o cachorro deve aprender para conviver na nossa sociedade, para o qual não está preparado. Ele não sabe que não deve morder, ladrar continuamente e comer tudo o que apanha.
- Tem de ter paciência para lhe repetir as mesmas regras o número de vezes que seja necessário, e ir com calma e moderação, sem o assustar com gritos, nervosismo e medo, premiando os comportamentos desejados e ignorando os indesejados. O cachorro não deve aprender e agir por medo ou por coacção.
O cachorro aprenderá que se portar bem tem prémio e com o tempo acabará por deixar os maus costumes.

- O cachorro não conhece o nosso vocabulário, assim quando queremos dizer-lhe algo, as palavras que utilizamos devem ser acompanhadas de uma linguagem corporal que indique ao cão o que significam. Juntamente com as palavras associe expressões faciais e/ou gestos que reforçam a compreensão do comando no cão, como por exemplo, dizer “senta” ao mesmo tempo que levanta a mão direita no ar (estimulo sonoro associado a estímulo visual).
- Utilize palavras curtas com sons únicos e num tom de voz apropriado, com firmeza, e sempre a mesma palavra para o mesmo comando, como por exemplo dizer “não” para corrigir ou “senta” para a obediência, com um tom de voz firme. As frases longas não têm sentido para ele.
- A educação deve ser um momento de lazer e diversão para si e para o cachorro e realizada por todos os membros da família.

  •   Como ensiná-lo a reconhecer o seu nome?

A primeira coisa que o cachorro deve aprender é o seu nome, e quanto mais cedo isso acontecer mais facilmente será memorizado.
Desde o primeiro dia da chegada á nova casa chame-o sempre pelo nome e se vier junto de si, felicite-o e recompense-o com uma carícia. Se demorar um pouco mais de tempo não o repreenda, senão da próxima vez que o chamar ele irá demorar mais tempo a reagir.


  • A higiene:

Nos primeiros 4 meses de idade, os cães não tem controlo total dos esfíncteres, por isso, não se assuste se o seu cachorro fizer as necessidades (urina e/ou fezes) em locais inapropriados. Ele precisa que o eduque a fazer nos locais desejados para o efeito e poderá fazê-lo logo desde o início da sua chegada a casa.
Se o seu cachorro se descuidou em casa durante a sua ausência, não o repreenda. A repreensão só será eficaz se o apanhar em flagrante. De um modo geral, os cachorros não são asseados, á excepção no local de descanso.


O que fazer para que faça as necessidades fora de casa?

Leve o cachorro com frequência, se possível com intervalos de aproximadamente 2 horas, e regulares ao local onde quer que ele aprenda a fazer.
Faça-o sempre a seguir às refeições, ao despertar e na sequência de momentos de brincadeira.
-Sempre que ele fizer as suas necessidades, felicite-o através do tom de voz ou de carícias.
-Se o cachorro começar a andar às voltas pela casa, como se estivesse a preparar-se para fazer as necessidades, espere que ele comece e de seguida, impeça-o erguendo-o no ar enquanto exclama a palavra “Não” com firmeza, e de imediato leve-o ao local desejado. Assim que ele tiver terminado as suas necessidades lá, acaricie-o e felicite-o.

  •  Ensinar a andar à trela:

- O ensino do andar à trela, á semelhança do treino de obediência, deve ser iniciado a partir dos 3 meses de idade. Quanto mais cedo o cachorro se habituar ao uso da trela, mais fácil será a aprendizagem.
- Deve começar com pequenas sessões em casa, mesmo antes de levar o cão à rua. Nestas sessões o cão será habituado à colocação e ao puxar da trela, com a utilização de reforços positivos (ex: carícias) para o encorajar.

O que fazer?

- Habitue o cachorro á coleira e, posteriormente inicie pequenos percursos dentro de casa com ele pela trela, diversas vezes ao dia e por períodos curtos de tempo;
- De seguida, deve aprender a caminhar com trela. Primeiro sente-o à sua esquerda (por uma questão pessoal poderá optar pela direita, desde que seja sempre o mesmo lado), depois dê a ordem para avançar e comece a caminhar;
- Segure a trela com folga e caminhe de forma normal, o cachorro deve caminhar junto a si, mantendo a trela com folga;
- Sempre que parar, mande-o sentar-se, recompensando-o com uma carícia;
- Se o animal puxar a trela diga “Não”, enquanto dá um puxão seco na mesma.

Nunca castigue o animal (por qualquer razão que seja) batendo com ele com a trela ou pouxando a trela, pois esta deve ser associada a um momento de brincadeira/prazer e não de punição/castigo.




  • Treino básico de obediência:

- Todos os cães, pequenos ou grandes, devem aprender uma educação básica, pelo menos, os comandos básicos da sequência: “Senta”, “Deita” e “Fica”. Esta ordem cronológica deve ser respeitada para que haja uma correcta aprendizagem pelo cachorro, ou seja, o dono deve certificar-se que a ordem anterior está perfeitamente adquirida antes de passar a ensinar a ordem seguinte.
Se o cão aprender estas ordens será muito mais fácil de o controlar, estabelecer uma relação e sobretudo que saiba comportar-se em cada situação, inclusive em caso de perigo.

 “Senta”: Enquanto exclama a ordem “Senta”, com uma mão exerça uma ligeira pressão sobre o dorso do cachorro, enquanto com a outra lhe mantém a cabeça erguida. Logo que o animal se sentar, felicite-o, acariciando-o enquanto menciona o seu nome.
 “Deita”: Comece por fazer com que o cachorro se sente e coloque-se de cócoras junto dele. De seguida, puxe suavemente as patas dianteiras para a frente enquanto dá a ordem “Deita”. Quando o animal estiver deitado, felicite-o fazendo carícias.
Fica” ou “Quieto”: Faça o cachorro sentar-se completando a ordem “Senta” com “Quieto”. Movimente-se alguns centímetros á volta dele e se ele se levantar ou o seguir diga-lhe “Não” e volte a coloca-lo na posição inicial, repetindo “Senta Quieto”. Á medida que o cachorro for evoluindo na aprendizagem deste comando, distancie.se cada vez mais.


- Como fazê-lo obedecer á chamada?

- Mais do que uma ordem, a chamada é um convite para o animal regressar para junto do dono, o que é útil em situações do dia-a-dia que possam constituir um perigo. A chamada deve ser relacionada com uma situação positiva como o receber carícias ou recompensas.
- De início, realize as sessões de treino dentro do perímetro de casa (ambiente familiar para o cão), antes de levar o cachorro para o exterior com uma trela comprida.
- Comece por associar a chamada à administração do alimento: uma segunda pessoa pode manter o cachorro á distância, enquanto prepara a refeição do animal. De seguida, chame-o pelo nome e diga “Aqui”;
- Pouco a pouco, à custa de carícias, felicitações e estímulos positivos, o cachorro percebe que ao escutar o comando “Aqui” deve regressar de imediato para perto do dono.

- O objectivo do treino de obediência é ajudar o cachorro a ganhar auto controlo e confiança e permitir ao dono gerir sem problemas inúmeras situações de maneio que aparecem no do dia-a-dia.
- O programa de treino do animal terá tanto mais sucesso, quanto mais cedo for iniciado, dado que na fase de crescimento existe uma natural e uma maior capacidade para a aprendizagem.


- Inicie os treinos com 3 sessões diárias de 5 minutos e depois poderá aumentar progressivamente o tempo e a dificuldade dos exercícios á medida que o animal vai crescendo. Os animais adultos são capazes de ser treinados com a mesma eficácia que os cachorros, apenas a velocidade de aprendizagem poderá ser menor. No caso dos animais com patologias comportamentais, em que a capacidade de concentração está normalmente afectada, a velocidade de aprendizagem também é menor.
- No início do programa de treino premeie o animal sempre que ele realiza o comportamento pretendido.

Reforço positivo: Os alimentos como os biscoitos para cão constitui a principal motivação para muitos cães, mas não são a única fonte de recompensa. Pode usar outras formas de recompensa durante o treino como dar atenção e realizar jogos e exercicios. Para determinados cães a atenção humana e os jogos são recompensas tão importantes como a comida.
- Para além do valor do alimento fornecido, o dono deve prestar atenção ao esquema de recompensa utilizado. Quando o animal já está numa fase avançada do programa de treino que realiza sempre o comportamento desejado após ordem, dever-se-á transitar para um sistema de recompensas intermitente, por exemplo, o dono passa a dar a recompensa 1 de cada 10 vezes que o cão obedece. Este esquema aumenta a motivação, porque o cão é incapaz de prever quando irá obter a recompensa e realiza este comportamento com mais frequência no intuito de a receber. Por outro lado, também reduz o risco de o comportamento desaparecer do repertório do animal, porque ele não consegue antever quando é que será premiado por uma nova manifestação desse procedimento.

  • Punição do cachorro:
- Quando o cachorro faz algo errado o castigo deverá ser instituído de imediato e se este for apanhado em flagrante. Os cachorros fazem associações directas, ou seja, tem pensamentos do tipo causa/efeito, pelo que a punição realizada a posteriori não fará com que este aprenda qual o comportamento incorrecto e qual o correcto. Além do mais, os castigos a posteriori podem provocar ansiedade ao animal pois este não compreende a sua atitude.

- É sempre preferível a recompensa por um bom comportamento ou o ignorar de uma reacção inesperada do que o castigo. O castigo deve reservar-se para as situações mais desagradáveis ou as que ponham em perigo o animal.
- O castigo pode ser directo, por exemplo agarrando-o pela pele do pescoço e sacudindo-o ligeiramente (reproduzindo assim o comportamento da mãe) ou batê-lo com um jornal. Nunca deve batê-lo com a intenção de o magoar.
- O castigo deve cessar logo que o animal evidencie uma postura submissa  (deita-se ou urina de medo).
- O dizer “não” ao cachorro quando faz algo proibitivo deve começar logo desde o primeiro dia da chegada á casa e deve ser associado a qualquer proibição, independentemente da sua natureza. Deve ser pronunciado num tom de voz firme e inequívoco sempre que o cão cometa uma acção proibida.

- Quando o dono pune o animal por uma asneira cometida e vê que ele faz um “ar de culpado” pensa que afinal o cão percebeu que fez asneira, e deve estar arrependido mas tal não é verdade.
Apesar do animal puder exibir aquilo que os donos descrevem como “ar de culpado”, quando a punição é deslocada no tempo, este não tem noção do erro cometido e todas as posturas corporais que apresenta são compreendidas pelo cão que o dono está desagradado com ele e prestes a repreendê-lo. Os castigos aplicados desta forma podem criar ansiedade ao animal, porque este não consegue compreender a ligação entre a acção indesejável e o castigo.

- Tem de haver uma coerência nas regras, com a prática de “nunca é nunca”, ou seja, se algo não for permitido ao cachorro (ex: acesso ao sofá ou quartos), tal não poderá ser permitido nunca, porque se o é umas vezes e outras não, o cão irá sempre tentar fazê-lo dado que não sabe se a resposta do dono irá ser positiva ou negativa e só depois o irá avaliar ao ser corrigido ao não.
Estabelecer rotinas e regras coerentes aumenta a possibilidade de o cachorro prever o que sucede no ambiente e é uma fonte de segurança. Um dos erros mais frequentes é pensar que só se trata de um cachorro e que podemos ser um pouco menos estritos com ele. Se morde ou rói algo achamos normal, pegamos nele ao colo, dormimos com ele, permitimos coisas que ao crescer não poderá fazer.
- O local de descanso, o chamado “ninho”, não deverá constituir o lugar de castigo, ou seja, o cachorro nunca deve ser mandado para lá após uma repreensão, pois deste modo, este será associado a algo negativo e poderá deixar de ser procurado para dormir.


Todas as indicações mencionadas devem ser consistentes e rigorosas, realizadas de forma idêntica por todos os membros da família e desde o primeiro dia do animal em casa,
 devendo ser mantidas ao longo do seu crescimento.


A mudança das regras faz com que o cachorro seja ainda mais desobediente (os donos habitualmente referem que “ele é muito teimoso”), faz com que o treino de higiene (o aprender a urinar e a defecar nos locais correctos) seja mais demorado e faz com que as chamadas “asneiras” sejam mais frequentes.  Isto acontece pelo facto de que o cão não entende porque antes podia estar/fazer/ter de uma determinada forma e de repente tudo muda.

-Uma vez que, cada cão é um caso único, se não souber como proceder para educar o seu cão, poderá recorrer à ajuda de profissionais. Em Portugal, existem inúmeras instituições que se dedicam ao treino de cães. Informe-se

Artigo escrito por Sandra Oliveira – médica veterinária (CP 4910)

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