Clínica Veterinária de Mangualde
Dr.
Benigno Rodrigues
Dra. Sandra
Oliveira
A CHEGADA DO CACHORRO A
CASA. O QUE FAZER?
Por fim chegou
o dia. Depois de muito deliberar em família todos os prós e contras e avaliar
todas as opções, o cachorro chega a casa. Para ajudar o novo elemento da
família na sua integração no novo lar, deve considerar as suas necessidades e
proporcionar-lhe todos os elementos para que se sinta seguro.
Deve providenciar ao seu cachorro 2 locais
diferentes e diferenciados: um local de
descanso e um local para a
alimentação, que têm de estar afastados o mais
possível um do outro e feitos de material de fácil limpeza. Usar
materiais laváveis para a cama e recipientes para a água e comida em aço
inoxidável constituem a opção mais higiénica.
- Local de descanso:
Nas primeiras semanas, este local de descanso
deverá ser utilizado também como um “parque infantil”, ou
seja, o cachorro deve ser deixado lá sozinho por períodos de tempo crescentes,
mesmo quando existem pessoas em casa, e sempre que os donos se ausentarem.
Nessas alturas, devem ser deixados lá brinquedos e extras/mimos alimentares
(biscoitos ou alimento húmido) em pequenas quantidades,
para que o cachorro se habitue à ideia da separação de elementos da família
e que esses momentos sejam associados a coisas boas (reforço positivo).
Atenção, terá de ter o cuidado de não dar estes
“mimos” exactamente no momento de se ausentar, pois isso irá reforçar
exactamente o contrário, ou seja, a presença do dono passa a ter um valor
excessivo e estar sozinho despertará sensações de ansiedade. Comentários e
rituais de partida como dizer ao cachorro por exemplo: “o dono vem já” e/ou
fazer festas e dar biscoitos no momento também reforçam a ideia de que o
cachorro vai ficar só e abandonado.
Se o cachorro chorar ou
ladrar constantemente enquanto estiver no parque/cama, não ceda á tentação de o
ir espreitar ou mandar calar, porque senão o animal rapidamente vai
aprender que obteve sucesso na sua chamada e passa a usar estes comportamentos
para chamar a sua atenção. Mesmo que o castigue, a frequência e a intensidade
desses comportamentos vai aumentar em situações futuras, pois para o cachorro é
melhor ter a presença de alguém por perto do que não ter atenção nenhuma.
- Local destinado à alimentação:
Seleccione um sítio onde colocar o comedouro/bebedouro
e, de futuro, não os mude de posição.
Tenha atenção para não os
colocar nos cantos das divisões, para que o cachorro não se sinta
encurralado quando se alimentar e para evitar de futuro, comportamentos
defensivos de tentar proteger a comida (causa comum de agressividade em cães).
O local destinado à
alimentação (comedouro e bebedouro) deve estar
longe do local destinado à eliminação de fezes e urina (resguardo e/ou
folha de jornal). Se não o fizer o animal poderá não utilizar esse local para a
sua higiene, achando depois o dono que o cachorro não aprende a urinar ou
defecar no local correcto ou que é “pouco limpo”.
As refeições:
- A ração comercial é o alimento mais completo e
ideal para administrar ao seu cachorro. A distribuição de guloseimas e/ou
sobras das refeições alteram o equilíbrio nutricional proporcionado por uma
ração de boa qualidade, podem prejudicar a saúde do seu animal, favorecer a
obesidade e incentivá-lo a mendigar alimentos durante as refeições dos donos –
acto completamente desaconselhado.
As refeições devem caracterizar-se por um código de
boa conduta que uma vez respeitado, evitará bastantes comportamentos
indesejáveis. Portanto:
- O número de refeições
diárias é de 3 vezes por dia até aos 6 meses de idade e 2 vezes por dia depois
dos 6 meses e na idade adulta.
- Administre as refeições a
horas fixas, no mesmo comedouro e no mesmo sítio, se possível, afastado do
local de descanso.
- Deixe sempre um bebedouro
com água limpa e frasca à disposição do cachorro.
- O cachorro deve ser
habituado a comer sozinho, a fazer refeições e sempre depois da refeição da
família ou em horários desfazados. Assim, compreenderá quem é o “chefe”, pois é
deste modo que se processa a hierarquia numa matilha.
Este ritual ajuda a regular o funcionamento
gástrico e a que o cachorro compreenda a sua posição hierárquica inferior no
núcleo familiar.
Para o cão, o
alimento tem valor social, dado que, voltando aos seus antepassados, o cão
alfa (o líder da matilha) para além de controlar a reprodução tem acesso
primário aos recursos alimentares. O controlo da comida é um símbolo de posição
alta na hierarquia, mesmo quando os recursos alimentares são abundantes.
Portanto, o comportamento do cão de “pedinchar à mesa”, mesmo depois de ter
acabado de comer, não acontece só por o cão ter fome ou apetite, mas serve para
demonstrar que tem acesso aos recursos do grupo.
Os novos donos evidenciam sempre uma certa
preocupação com o crescimento do cachorro e acreditam que um grande apetite é
um indicador do bom estado de saúde do animal. Por isso, a ansiedade que sentem em relação ao apetite do recém-chegado leva-os
a observar o animal enquanto este se alimenta. Infelizmente, este comportamento
pode ser interpretado pelo animal como um sinal de ameaça, pressupondo que o
dono pretende aceder ao alimento. Os cães mais inseguros podem sentir-se
ameaçados ao ponto de se afastarem do comedouro ou, em alternativa,
mostrarem-se agressivos em relação ao dono para defender a sua fonte de
alimentação. Para além disso, o comportamento que permite um animal comer antes
dos outros, enquanto estes esperam e vêem, também tem importância social (já
que o resto da matilha espera e observa enquanto o
líder come).
- As suas primeiras experiências:
Durante o período de sociabilização (das 8 ás 16
semanas de idade) o cachorro deve habituar-se a estímulos e a situações que encontrará
em adulto. Deverá assegurar que o cachorro experimente
a sociabilização com membros da sua espécie, com pessoas e com outras espécies
animais.
É importante apresentar-lhe a maior quantidade possível de estímulos, com por exemplo: crianças, bebés, pessoas de outras idades e condições, outros animais domésticos, diferentes ambientes, sons, cheiros, trovoadas, fogos-de-artifício, ruídos comuns da casa (aspirador, campainha, telefone), transportadora, etc. Quantas mais, melhor. Desta forma aprenderá a viver em sociedade e a evitar mais tarde problemas comportamentais.
- Os cães são animais sociáveis: tem necessidade de
conhecer outros seres vivos e devem participar no maior número de actividades
da sua família e amigos.
- Leve-o a passear a jardins e parques para que o
animal descubra o mundo e se socialize de forma adequada procurando em
simultâneo, respeitar os outros (passeio-o de trela em lugares públicos e
recolha para um saco plástico os dejectos deixados).
É fundamental
não atrasar a saída do cachorro á rua para depois dos 3 meses (o período
crítico de sociabilização termina por esta altura), porque pode ser prejudicial
para o seu correcto desenvolvimento emocional e social. Para não haver risco de
contrair doenças, já que por volta desta altura o cachorro pode não ter o
programa vacinal completo, leve o cachorro ao colo para o meio exterior para
que possa ver e relacionar-se com os ruídos, meios de transporte, pessoas e
animais que vai experimentar mais tarde na sua vida.
Um animal
mal sociabilizado é susceptível de apresentar medo, insegurança e agressividade
perante àquilo com que não teve contacto e isso afectar a relação com o dono e
a família.
- Para que haja uma habituação, a exposição ao
estímulo deve ser feita de forma gradual.
- Truques para superar a solidão/separação:
Os primeiros dias do cachorro na nova casa vão ser
muito stressantes porque tem que se acostumar a uma nova vida e a uma nova
família, longe da mãe e irmãos. Vai sentir-se perdido e em perigo. A solidão é
uma realidade que o cachorro irá conhecer ocasional e regularmente e, por
consequência, deverá estar preparado para a enfrentar.
Até se acostumar ao lar, convém que o cachorro
desfruta da companhia e da presença do dono, sempre que possível, mas não é
necessário uma atenção continuada. Antes dos 4 meses de idade não tente
habituar o seu cachorro a passar muito tempo sozinho pois poderá originar
verdadeiras crises de ansiedade.
Se o cachorro é muito pequeno ou chama muito por
atenção pode ajudá-lo a superar a solidão com alguns truques:
- Pode deixar no parque de brincadeira/local de
descanso uma botija de água quente e/ou um boneco de peluche, que simbolizam
respectivamente o calor e a presença física da mãe e da ninhada. Ou, se for
possível, traga algum objecto do criador, com um cheiro da mãe e coloque-o
junto dele.
- Aproveite as
ocasiões em que o cachorro está cansado para o habituar a estar sozinho.
-
Progressivamente prolongue os momentos de solidão/períodos de ausência do dono
para que se tornem uma prática natural que dispense rituais de despedida e
reencontros exuberantes. Isto evita que, no futuro, o cão não mostre
comportamentos destrutivos quando fica sozinho em casa.
- Como fazer com que não tenha receio da transportadora?
A transportadora deve ser sempre utilizada como veículo
de transporte do animal nas viagens da família e nas idas ao médico veterinário
e sempre que queira deslocar-se com ele nos transportes públicos. É um meio de
transporte cómodo, barato e seguro.
Para evitar situações de ansiedade e medo sempre
que quiser que o seu animal entre na transportadora, para ele, ela deve ser
mais um elemento familiar. Recomendo deixá-la aberta na divisão onde está o
cachorro, para que ele possa usá-la como um lugar seguro, um refúgio. Com este
simples gesto, propiciamos uma melhor aceitação e a transportadora não é
identificada apenas com as idas ao médico veterinário.
- Como acostumá-lo à visita ao médico veterinário?
- Passeie com o seu cachorro perto da zona onde
encontra-se a clínica veterinária e de vez em quanto leve-o para visitar o
médico veterinário, sem ter de realizar nenhum tipo de intervenção que o
assuste. Desta forma, acostumamos o cachorro a sons e odores novos sem
necessidade de os associar a uma ameaça.
- Uma boa forma de criar uma associação positiva à
consulta veterinária é oferecer ao animal alguns mimos/prémios na forma de
pequenos biscoitos, enquanto está na clínica.
- Para acostumar o seu animal à manipulação e à
observação clínica/exame clínico feita pelo médico veterinário, simule-a em
casa manipulando a boca, as orelhas e o resto do corpo do animal.
- Cuidados de maneio do cachorro:
A maioria dos rituais de maneio e higiene, como por
exemplo: a limpeza das orelhas, o corte de unhas, a escovagem do pelo e a
lavagem dos dentes são possíveis e facilmente realizados pelos donos em casa. Mas,
à medida que o animal for crescendo, podem tornar-se momentos de stresse e
mesmo de conflito entre dono e animal, culminando muitas vezes em situações de
agressividade. Tal acontece porque a maioria das posturas por parte do
proprietário são de dominância perante o cachorro e se, noutras situações do
dia-a-dia de ambos, esta postura de dominância não for igualmente favorecida, o
animal é exposto a uma situação de confronto.
Dentro do mesmo contexto, a manipulação da boca
deverá ser um ritmo habitual, o que permitirá também preparar o animal para a
administração futura de medicação ou para actos de higiene oral como a
escovagem dos dentes.
Com
frequência, acaricie o cachorro desde a nuca até à cauda. Desta forma,
identificamos as zonas que mais e que menos gosta.
- Brincar é Aprender!
Brincar significa aprender atitudes e
comportamentos para a vida. Brincar com
o cachorro é também uma forma de educar, é a maneira mais simples do cachorro
perceber o que queremos dele, e é um prazer partilhado por todos.
O jogo fomenta a sua socialização com outros cães e pessoas. Através do jogo o cachorro aprende limites e normas, a controlar a força da mordedura, os latidos e impulsos corporais, a interpretar a linguagem corporal de outros cães e a expressar as suas necessidades.
O jogo fomenta a sua socialização com outros cães e pessoas. Através do jogo o cachorro aprende limites e normas, a controlar a força da mordedura, os latidos e impulsos corporais, a interpretar a linguagem corporal de outros cães e a expressar as suas necessidades.
É bom dar-lhe vários brinquedos diferentes, assim
não se aborrece, mas confira que sejam seguros. Devem ser constituídos por
materiais resistentes que possa morder sem desfazer-se e grandes para que não
possa engolir, e sem elementos que se possam soltar-se ou sufocar-lhe. Evite
dar-lhe para brincar objectos que não queremos que destrua, como o calçado, por
exemplo.
(Continua na mensagem seguinte do blog intitulada de: "A educação do cachorro")
Artigo escrito por Sandra Oliveira – médica veterinária (CP
4910)
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